quarta-feira, 23 de maio de 2012

Circo Nostalgia apresenta o Palhaço Saudade


Fui ao circo... 

Um daqueles que perambulam pelos interiores e bairros distantes das capitais. 

Não era tão pequeno e bem mais organizado do que aqueles da minha infância e adolescência. Nas arquibancadas, ao invés de poleiros onde o público se equilibrava e dividia bundas e pés, plataformas com cadeiras de plástico. Cabos de aço em vez de cordas. Canhões de luzes, som de primeira com músicas de quinta categoria, picadeiro bem-feito e classicamente redondo. Muita gente e... pipoca!

O espetáculo trouxe equilibrista, globo da morte com duas motocicletas, meninas penduradas a mais de 10 metros do chão sem rede de segurança embaixo, a mulher com o cabelo mais forte do mundo, malabaristas e mais outros números típicos. Senti muita falta de um mágico acendendo uma lâmpada na testa de alguém do público e as libidinosas rumbeiras, alegria de nossa. Mas, não faltaram palhaços, claro, senão não seria circo.

A grande mágica, o momento da grande explosão no circo, porém, vem sempre após a primeira graça do palhaço. Abram-se as cortinas para algumas palavras sobre este profissional do escárnio.

Eis diante de centenas de pessoas um só homem com a cara pintada, exercendo um ofício que não se ensina, seu bosta!, protegido apenas pela maquiagem no rosto. Porque é apenas isto que ele tem de proteção contra o pudor e a moral, é o atestado de sua licença para escarnecer de todos os defeitos explícitos e suscitar os secretos. É sua permissão para rir e zombar sem criar máculas. Todos estão nus diante do palhaço e lhe sugerem algo. O pó de arroz, a tinta barata defendem-no também das afrontas da parcela bizarra do público, esconde-lhe a ira, permite-lhe rir mesmo estando triste. Palhaço é bobo-da-corte cujo rei e rainha é o adorável público: as crianças que querem apenas rir e comer guloseimas, os jovens casais oportunistas, os adultos sedentos de purgação.

O circo está acabando. Logo não haverá mais lona para abrigar nem pessoas para carregar essa alegria itinerante. Os meninos ficarão a sonhar com o inacessível Cirque du Soleil, ou nem sonharão. Jamais conhecerão o alívio de não ser a vítima daquela piada escrota e de duplo sentido, muito menos o que significa "maiar". Acabarão as arruaças dos palhaços pelas ruas divulgando o espetáculo das 19 horas e os meninos ficarão sem ganhar confeitos ou mesmo ingressos gratuitos. Pais e mães dormirão sem a pertubação do filho que quer ir ao circo com o colega.

Restará o Circo Nostalgia. No qual quando chove há espetáculo!

...e vi o número do Palhaço Saudade.