sexta-feira, 22 de junho de 2012

Setecentos e trinta depois


O acúmulo de dias, noites e catástrofes só nos faz mais de nós.
A reconstrução interior é ainda mais árdua.
As formas não querem se encaixar, apesar da necessidade
Setecentos e trinta e tantas dores depois...

José Minervino Neto
União dos Palmares via Branquinha
18 a 20 de junho de 2012

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Imagens descoloridas



Ontem, 20/06*, foi o Dia Nacional do Cinema, o que não quer dizer muita coisa, convenhamos. Com raras exceções, poucos filmes brasileiros alcançaram um elevado grau de primor estético. Por essas bandas sempre faltou estrutura, de equipamentos à mentes, e apoio financeiro para desenvolver a indústria cinematográfica nacional.

Com exceção, talvez, do movimento Cinema Novo, que projetou a produção brasielira para fora, somente de uns quinze anos para cá o fator estético realmente ficou em primeiro plano. Boas narrativas, bons atores e aspectos técnicos importantíssimos da composição de um filme, como fotografia e trilha sonora, foram usados com maior critério. Porque não basta ter apenas "uma câmera na mão e uma ideia na cabeça" para se produzir um BOM filme. 

Cinema é Arte, que, por sua vez, requer a expressão do belo, mesmo vindo carregado de cores não muito alegres. Algo distante das hilárias pornochanchadas e dos filmes-denúncias, herméticos, marcantes no cenário mais recente, ou das comédias clichês repletas de atrativos "globais". Próximo, porém, do sentimento universal diante de uma particularidade.

Ranulpho (João Miguel) e Johann (Peter Ketnath)
em Cinema, Aspirinas e Urubus (2005).
Para mim até o momento, oriundo de solo brasileiro, somente Cinema, Aspirinas e Urubus (2005), dirigido por Marcelo Gomes e protagonizado pelo perfeito João Miguel e o alemão Peter Ketnath, logrou excelência, ao contar uma história ambientada no sertão, contudo permeada por uma sensibilidade forte, catártica, tocante a qualquer cidadão do mundo.

Há, claro, outras boas películas, jamais esqueceria de Central do Brasil (1998), que tem lugar cativo no meu ideário, Cidade de Deus (2002), Tropa de Elite 2 - o inimigo agora é outro (2010). Outros poderão ser adicionados à lista à medida que o acervo aumentar, por enquanto cito apenas estes.

Outro problema do cinema nacional é o público viciado nas fórmulas hollywoodianas, que lota salas de filmes como o péssimo Se eu fosse você (2005) - nada contra as boas comédias - e desdenha de outros mais consistentes, como o próprio Cinema..., também de 2005. Nossos cineastas precisam ser estimulados também pelos consumidores de cinema para continuarem a fazer bons filmes. E não, isso não quer dizer que eles ganharão um Oscar, essa premiação cada ano mais fisiológica, mas se vier que seja para um filme realmente digno.

O salto qualitativo tão ensaiado por décadas já foi dado, a tecnologia está acessível, há leis de incentivo e uma safra de atores (João Miguel, Wagner Moura, Alice Braga, Drica Moraes, sem contar os veteranos ainda na ativa) e diretores (Walter Salles, Fernando Meirelles, Marcelo Gomes, José Padilha) como não se via desde muito tempo. Tem-se todos os elementos para fazer cinema no Brasil e fazer bem-feito. 

É hora de evoluir, sair da casca e construir um cinema brasileiro deveras artístico e universalista.

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Há um equívoco quanto a data em que se comemora o Dia Nacional do Cinema, na verdade, é o dia 19 e não 20/06, como está acima.

terça-feira, 12 de junho de 2012

O amor, o @mor e o Amor

Autoria: Orlandeli.
Com uma vida amorosa feito a minha, talvez não devesse falar sobre o amor, ou por isso mesmo eu devo, sei lá! Claro que não me refiro a qualquer tipo de amor, mas da vertente mais forte, intensa e louca: o amor eros, aquele que evolui do olhar às peripécias condenadas pela moral e os bons costumes.

De repente, ser único deixa de oferecer o conforto necessário para executar as tarefas mais simples (que dirá  as complexas) do dia. Insônia, desatenção, fastio são alguns aspectos. Vibrar a um singelo gesto, às vezes despretensioso, da pessoa desejada, tudo e tanto mais são também indicativos de que o amor já começou a fazer suas estripulias. Haja foto do casal no avatar do Facebook, Twitter, Orkut, MSN, declarações gigantescas em 140 caracteres... Afinal, a sensação de não estar mais cambaleando no mundo "não tem preço".

Nem quero citar os estragos que amor causa após terminar seu prazo de validade. Interessante é que na vida adulta muita gente dissimula com um "Tô nem aí" por ocasião de um eventual desacerto. 

O Amor, porém, o verdadeiro Amor ainda existe? No máximo, deve estar escondido, anônimo nos lugares ignorados do mundo de tão comum que é hoje em dia adolescente encontrar, dos 15 aos 17, o amor eterno pelo menos umas duas vezes por ano (clichê facebookiano). E conviver com o desamor na mesma medida (extensão do clichê). Pelo menos são corajosos essses meninos e meninas.

Aprendi observando muitos casais que o amor vai se construindo a cada compasso de tempo. E que o romantismo vale a pena. E que dizer "Eu te amo" não é piegas, e sim, perigoso se for leviano. E que se pode amar várias vezes na vida, por muito ou pouco tempo, desde que haja intensidade e verdade nesses momentos.

Desconheço algo "gratuito" mais caro do que o amor, algo que exija mais tempo e esforços, isso em todos os aspectos de tal substantivo, e que, no fim, é sempre mais em benefício alheio que de si próprio. O amor é um desafio à nossa natureza animal.

Vale a pena amar? Sinceramente, continuo acreditando que sim, embora o histórico seja desfavorável. E, obviamente, eu não quero me tornar um provecto rabugento usuário das pílulas azuis, daquele tipo solitário e cheio de si que para ter "amor" precisa comprá-lo. 

Também desconheço sensação melhor do que o Amor recíproco. Um afago, a companhia, a cumplicidade alcançadas na última juventude não estão, jamais estarão disponíveis em farmácias ou lojas. E pensar que Ele está por aí ainda... 

Olá, Amor, há vaga?

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Publicado anteriormente no blog JMarcelo Fotos.