quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Dois filmes

Filmes, uma paixão comparável somente à música e à literatura para mim. Recentemente, vi alguns filmes por indicação da adorável Jaquelyne Diniz (@JaquelyneDiniz), dona do Sinuado Espelho. São eles, na sequência em que foram vistos:

- O fabuloso destino de Amélie Poulain (Le fabuleux destin d'Amélie Poulain, 2001)

Surpreendente. O roteiro é bem construído e amarrado, não peca pela mesmice, embora perto do final deságue em obviedades, quando se consegue deduzir com certeza o que Amélie fará após cada corte e mudança de ambiente/cena. A narração à la Ilha das Flores (como notou alguém num site que não lembro qual) dá agilidade ao longa, e as divagações do narrador é um elemento muito forte e engraçado. Transmite otimismo e um certo refrigério na alma, pois tem uma mensagem do tipo "fazei o bem sem olhar a quem" e de esperança no amor. É uma comédia sem apelação muito inteligente. Destaque para os "estratagemas" de Amélie. Palmas para os franceses!

- Muito além do jardim (Being There, 1979)

Assim como o primeiro, é uma comédia atípica, inusitada e, principalmente, provocante. O alheiamento de Chance a despeito de tudo o que o envolve é tocante. Ele é um jardineiro, apaixonado por TV, que após a morte do patrão é expulso da casa onde vivia e vaga sem rumo pela cidade até ser atropelado pelo carro que conduzia Eve, a esposa de Rand, um grande e influente empresário moribundo, de quem logra celeremente a amizade e confiança, a ponto de acompanhá-lo quando este recebe a visita do presidente dos EUA em sua casa, onde Chance é hospedado para cuidar da perna acidentada. Ao longo das cenas, o protagonista espalha frases de efeito, algumas de puro nonsense, entendidas na maioria das vezes como conselhos sobre a crise econômica ou franqueza diante de temas severos, como a morte. A ingenuidade do jardineiro impede que ele fale de outra coisa além do seu ofício, no que é entendido como se fosse um sábio falando parábolas. O fato é que Chance trata com naturalidade tudo o que causa apreensão às pessoas e se mantém distanciado. É franco num meio onde a falsidade impera, impassível ao assédio, não mente. Mas chora quando Rand morre segurando sua mão, mesmo assim não deixa de notar que isto "acontece com os velhos". Foi o filme que mais me tocou dos dois, porque me fez rir e refletir como se fosse um do Chaplin. Roteiro conciso, leve e sem lacunas, ótima atuação dos atores. E, como se não bastasse, tem um final surrealista e profanador. Enfim, perfeito.

Esses dois filmes estão longe do mero entrentenimento, pois tratam daquilo que nos torna humanos, no bom sentido, com suavidade e bom humor.