sábado, 9 de abril de 2011

Resposta à senhora psicóloga

Há quase dois anos, recebi um texto por e-mail corrente criticando Cazuza de modo acentuadamente discriminatório, em tom de falso moralismo e tudo que repugno numa pessoa. Decidi, então, dar uma resposta a quem repassou e a quem escreveu de certa forma. Mas não fiz isso e me arrependo. Aí, revirando meu baú achei-o. Aí, publiquei ele aqui para apreciação geral. Tenham paciência e atenção. 
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Cazuza não era Jesus. A opinião da psicóloga só reflete uma típica moral reacionária, conservadora. Os Beatles consumiram drogas de todos os tipos a que tiveram acesso nem por isso são endemonizados dessa forma em lugar nenhum do mundo.  Dependente químico difere muito de traficante, que vive à custa daquele. Ser uma coisa ou outra não é questão de classe social. Ninguém escolhe onde vai nascer.

Cazuza não morreu porque se drogava. Lembremos que naquela época não havia tanto conhecimento sobre a Aids como atualmente. Lembremos também do preconceito envolvendo os homossexuais, dizia-se que só se transmitia a doença numa relação homossexual, que era uma vingança de deus aos sodomitas etc., etc. Cazuza morreu como milhões de pessoas contaminadas pelo HIV, durou um pouco mais devido aos recursos financeiros da família, eis aqui a sutil diferença.

Cazuza só gravou disco porque seu pai fazia parte de uma gravadora? Não. O KLB também desfruta dessa condição, contudo não chegam a 1% do talento de Cazuza. Uma coisa é SER POETA, outra é usar o rostinho bonito e fazer versões de músicas estrangeiras pra ganhar uma grana de um público cada vez mais alienado. A quem desconfia do talento do poeta aconselho ouvir com mais atenção suas composições.

Cazuza realmente não era um exemplo a ser seguido, afinal ele nunca pediu isso. Como muitos ídolos dos anos 80 e 90, viveu livremente. O que para alguns é libertinagem, também pode ser entendido como estilo de vida. Os pais devem dizer “não” aos filhos sempre que necessário, obviamente. Porém, nenhuma educação é um certificado de garantia de felicidade. As pessoas são imprevisíveis. Ou a Psicologia já conseguiu classificar todas as personalidades?

Se eu tivesse um/a filho/a tentaria impedir que ele/a assistisse à TV Câmara ou à TV Senado. Ali, sim, resguardados pouquíssimos sujeitos, há maus exemplos.

O Rock and Roll dos anos 80 e início dos 90 revolucionou mentes, vidas. É inegável sua contribuição à redemocratização do Brasil, apesar desta ainda estar em curso. Cazuza fez parte desse movimento. É este o ídolo, não aquele demônio das palavras da psicóloga. Nós, fãs de Cazuza, admiramos o poeta, o ser humano despido de valores e convenções sociais hipócritas.

Se eu tiver um filho/a, ele/a será o que quiser ser. Eu tentarei ensinar-lhe outras coisas, menos o preconceito, a discriminação.

“Vamos pedir piedade, Senhor, piedade! Pra essa gente careta e covarde” (Cazuza em “Blues da piedade”).


José Minervino Neto
Branquinha-AL, 29/06/2009