domingo, 21 de março de 2010

Literatura de criança?

Sazonalmente trago para este espaço reflexões de caráter conceitual das coisas que mais ocupam minha mente. E literatura já me é. Leio pouco, tento porém cadenciar a leitura com boas notas. Vasculho as estantes de livros sempre, primeiro, à procura de clássicos e deparo-me com outros títulos interessantes, não-clássicos, que parecem magnetizados. Hipnotizam-me: "Leia-me!". Isso vem acontecendo com muita frequência com um tipo de livro específico, aqueles da literatura infanto-juvenil.

Essa literatura feita ou não, pensada ou não para uma faixa etária tem causado um alvoroço nos meus ânimos leiturísticos. O universo fabuloso, mágico, lúdico e encantador de livros como O menino do dedo verde (Maurice Druon), O visconde partido ao meio (Italo Calvino), por exemplo, fizeram-me negligenciar a leitura de O memorial do Convento, do José Saramago, por sinal um livro que dialoga com o mesmo imaginário, apesar de ser uma recontagem de fatos históricos documentados.

Fui impactado por uma pequena avalanche de boas risadas e grandes reflexões metafísicas. Tistu, o menino do dedo verde que faz tudo florescer, acaba com uma guerra e faz as pessoas felizes, não se conforma com o mundo tal como é, e transforma a cidade de Mirapólvora em Miraflores. O visconde Medardo di Terralba, por sua vez, vai à guerra e volta dividido de norte a sul em uma parte boa e outra má, ambas cometendo absurdos e nos mostrando o quanto o equílibrio é importante. Entre cenas hilárias, percebemos que a incompletude que nos assalta não pode ser resolvida apenas numa parte, tem de haver o todo.

E assim vou renegando de forma contumaz a má impressão que muitos têm de que a categoria infanto-juvenil é dispensável aos adultos, que serve apenas para instigar o gosto pela leitura nas nossas crianças. Não, não. Há poesia lá, não pode ser inferiorizada. Obviamente uma criança demorará um bocado para entender as entrelinhas. Mas entenderá.

Enfim, é tudo literatura, aliás, boa literatura. O Pequeno Príncipe, do magnífico Antoine de Saint-Exupéry, por si só já é um grande e sólido argumento.