sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Monólogo de Natal (Aldemar Paiva)

Não gosto de você Papai-Noel...
Também não gosto desse seu papel
De vender ilusões à burguesia.
Se os garotos humildes da cidade
Soubessem de seu ódio à humildade,
Jogavam pedras nessa fantasia!

Você, talvez, nem se recorde mais,
Cresci depressa e me tornei rapaz
Sem esquecer, no entanto, o que passou...
Fiz-lhe um bilhete pedindo um presente
E a noite inteira eu esperei contente,
Chegou o sol e você não chegou!

Dias depois, meu pobre pai, cansado,
Trouxe um trenzinho feio, enferrujado,
Que me entregou com certa hesitação.
Fechou os olhos e balbuciou:
- É prá você... Papai Noel mandou -
E se esquivou contendo a emoção!

Alegre e inocente, nesse caso
Pensei que o meu bilhete com atraso
Chegara às suas mãos no fim do mês.
Limpei o trem, dei corda, ele partiu,
Deu muitas voltas e meu pai sorriu
E me abraçou pela última vez!

O restou só eu pude compreender
Quando cresci e comecei a ver
Todas as coisas com realidade.
Meu pai chegou um dia e disse a medo:
- Onde é que está aquele seu brinquedo?
Eu vou trocar por outro na cidade –

Dei-lhe o trenzinho, quase a soluçar
E como quem não quer abandonar
Um mimo que lhe deu quem lhe quer bem
Disse medroso: - Eu só queria ele...
Não quero outro brinquedo...quero aquele...
E por favor não vá levar meu trem –

Meu pai calou-se e pelo rosto veio
Descendo um pranto que eu ainda creio,
Tão puro e santo, só Jesus chorou.
Bateu a porta com muito ruído,
Mamãe gritou, ele não ouvidos,
Saiu correndo e nunca mais voltou!

Você, Papai Noel me transformou
Num homem que a infância arruinou,
Sem pai e sem brinquedos. Afinal,
Dos seus presentes, não há um que sobre
Para a riqueza do menino pobre
Que sonha o ano inteiro com o Natal!!

Meu pobre pai, doente, mal vestido,
Prá não me ver assim desiludido
Comprou por qualquer preço uma ilusão...
Num gesto nobre, humano, decisivo,
Foi longe prá trazer-me um lenitivo,
Roubando o trem do filho do patrão!

Pensei que viajara, no entanto,
Depois de grande, minha mãe em pranto
Contou que fora preso. E como réu,
Ninguém a absolvê-lo se atrevia.
Foi definhando até que Deus um dia
Entrou na cela e o libertou pro Céu!

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Conheci este texto num momento mágico, quando o querido Professor Julião Marques o declamou perante minha saudosa turma do 2º ano de História-UFAL, lá nos idos de 2004. Isso mudou toda a minha concepção de Natal, desde então para mim uma coisa feia e repleta de hipocrisia. Não sou comunista/marxista, mas isso é uma invenção burguesa de mal gosto.

O título do poema é meio duvidoso, pois encontrei-o com outros, sempre dando os créditos ao Aldemar Paiva. Estou confiante nas palavras desse cara legal aqui: http://www.bodega.blog.br/nareal/monologo-de-natal/; inclusive postei um comentário perguntando-lhe sobre essa questão, está tudo lá.

Enfim, desejo dias bons a todos. Afinal, é disso que precisamos...

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Sapatada no Bush


Esse na charge do Carlos Latuff é Mutanzer al-Zaidi, repórter iraquiano que por pouco não acertou uma sapatada no Bush.

Agora é a nossa vez de jogar o sapato no Bush!

Link:
http://bushbash.flashgressive.de/

domingo, 14 de dezembro de 2008

RessaCapitu

Em cinco capítulos, com muito psicodelismo, grandes interpretações, trilha sonora impecável e fidelidade ao texto original com nuances pop, a minissérie Capitu se fez. De longe a melhor adaptação de uma obra literária que EU já vi. A cada capítulo o sentimento de “algo poético no ar” se confirmava. Uma delícia! Dom Casmurro, considerada a obra maior de nossa literatura brasileira (EU discordo), se transformou maior aos meus olhos, deu vontade de reler o Machado de Assis.

O diretor Luiz Fernando Carvalho novamente nos fez imaginar além do que se vê no vídeo (lembra A Pedra do Reino?), principalmente em relação aos famosos “olhos de ressaca” de Capitu. Depois de conhecer a beleza de Letícia Persiles essa metáfora ganhou mais consistência em mim, e de quebra ela ganhou mais um admirador da sua banda Manacá, que conheci mediante as notícias na mídia a respeito da minissérie.

Porém, o que seria desse projeto sem a interpretação e narração do ator, apresentador e poeta Michel Melamed? Nunca imaginei que ele fosse tanta coisa ao ver seu programa na TV Cultura (por sinal, ótimo, pena que esqueci o nome). Destaco o olhar impassível nas cenas finais, quando o Bento Santiago reencontra Ezequiel, seu filho (?).

Outro ponto alto foi o clima de dúvida e insinuações que pairaram sobre o triângulo Bento-Capitu-Escobar. Quem já leu o livro sabe do ciúme de Bentinho por Capitu, da desconfiança sobre a relação desta com Escobar, que aparece várias vezes na sua casa quando o marido está fora. Ao leitor diletante, mais desinteressado, talvez passe despercebido o amor platônico de Bento e Escobar. As declarações do narrador são tão carregadas que se poderia trocar o nome deste pelo daquela. EU, que li o romance mais por deleite que outra coisa, só percebi isso quando li um célebre ensaio do Millôr Fernandes (como gostaria de reler agora!). Isso, claro, ganhou proporções enormes na minissérie. Estou convencido de algumas coisas: Bentinho foi traído e depois de tantas tentativas fracassadas de engravidar Capitu, concluo que era estéril (a obra não diz isso, mas eu não tô fazendo crítica literária mesmo!) sendo Ezequiel filho de Escobar. O Millôr vai mais longe e diz que Bento e Escobar tinham uma relação homossexual. Embora soe machista, é minha sincera opinião.

Enfim, uma obra grandiosa com uma adaptação primorosa. Quem não leu o livro que o faça logo. Quem não viu a minissérie, paciência, daqui a uns meses a Globo lança em DVD.

Estou meio embriagado até agora. Tô com uma ressaCapitu da gota!

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Atualização importante: Tanto tempo depois, eis que encontro as palavras do Millôr (R.I.P.) sobre Dom Casmurro, aqui.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Reflexão sobre o filme “Mar adentro”

Afinal, o que é a vida? Ou, a quem ela pertence? Longe do intangível, não sei, perto dele me sinto escravo do tempo. Seria a vida apenas um instante no grande relógio do cosmos, como parece ser? De qualquer forma, o consenso é ilusório para estas perguntas redundantes (ecos), ao menos pode-se afirmar que há quem deseje viver, não tendo muitas razões para isso, entretanto suficientes a si, e para não alongar muito, há quem deseje morrer pelo mesmo. Para a maioria das pessoas, a morte é o maior vilão da estória da humanidade, mas também serve de consolo e fim a dor de, por exemplo, estar privado das sensações.


Vida: não é uma coisa, não é qualquer coisa. É algo indefinível. Há uma vida para cada ser que vive, um conceito diverso e único para cada humano. Como dizer o que é sem equipará-la aos objetos? Ela está aí, em todos os lugares desse mundo.


Agrada-me escutar o ar entrando e saindo dos pulmões quando respiro mais forte, sinto-me em paz no silêncio total quando nada escuto nem penso, de preferência vendo o céu azul à tarde, as nuvens, o verde. Vivo. Sou tão mais vivo quando as pessoas que amo me sorriem. Se eu perder estas coisas, perderei meu conceito de vida.


Para quem não sabe, nem deseja saber, mas entende que há razões para viver, provérbio nenhum se encaixa melhor aqui que o “Carpe diem”.


Bem ou mal, estou vivendo.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Nossa história


Ninguém foge à história. Somos parte dela, produzimo-la constantemente e somos por ela produzidos. Nosso anonimato junta-se ao anonimato de outros e assim compomos as massas que fazem o motor funcionar, silenciosamente.

Pensar sobre nós mesmos é uma atitude filosófica que envolve o esquadrinhamento de nossas raízes. Quem éramos antes de existirmos é o que nos faz, de algum modo, ser o que somos hoje.

O mais fascinante na história é que não há meio de conduzi-la. Por mais que se tente, ela sempre nos surpreende.

Muitas vezes intentamos mudar o mundo, e mudamos, mas não o fizemos como realmente queríamos. Por conta disso, o ar que respiramos está impregnado de odores seculares da labuta de pessoas que construíram os alicerces nos quais erguemos nossas histórias...

Mas há sangue por toda a parte e exploração... e miséria, e desgovernos, e pranto...

Precisamos mudar novamente... ou acabar de vez com a história.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Um delicioso conto de Drummond


Retirado integralmente do livro "Contos plausíveis", 5ª edição, publicado pela Editora Didática Paulista e Record, em 2002.

A incapacidade de ser verdadeiro

Paulo tinha fama de mentiroso. Um dia chegou em casa dizendo que vira no campo dois dragões-da-independência cuspindo fogo e lendo fotonovelas.

A mãe botou-o de castigo, mas na semana seguinte ele veio contando que caíra no pátio da escola um pedaço de lua, todo cheio de buraquinhos, feito queijo, e ele provou e tinha gosto de queijo. Desta vez Paulo não só ficou sem sobremesa como foi proibido de jogar futebol durante quinze dias.

Quando o menino voltou falando que todas as borboletas da Terra passaram pela chácara de Siá Elpídia e queriam formar um tapete voador para transportá-lo ao sétimo céu, a mãe decidiu levá-lo ao médico. Após o exame, o Dr. Epaminondas abanou a cabeça:

- Não há nada a fazer, Dona Coló. Este menino é mesmo um caso de poesia.

(Carlos Drummond de Andrade)

sábado, 22 de novembro de 2008

Letras X números

Que angústia! Por que eu não me apeguei aos números invés das letras? Hoje, graduado em alguma área das exatas, caso fosse um licenciado, seria professor dos mais cobiçados, ou bacharel muito talentoso. Mas preferi as letras, e por mais descapitalizado que eu seja por conta disso, ainda que angustiado, não me arrependo. Se eu conseguir viver o suficiente para ter grandes amores e curtir grandes aventuras, já terá valido a pena. Aliás, como já fiz um pouco de cada, com mais um pouco não morrerei frustrado.

Se eu fosse dos números, decerto seria um bruto que não vê beleza numa flor, nem num gesto doce. Dificilmente eu gostaria das músicas que gosto e me valeria de qualquer uma para refletir sobre minha vida. Jamais teria lido os livros que li e releio vez em quando. Sonharia com fórmulas matemáticas e usaria uma linguagem difusa e com o mínimo de lógica aos não-iniciados. Talvez sequer parasse para ver um quadro, embora eu ressalte aqui que não costumo absorver nem dizer muito dos que observo.

É verdade que nem todos das exatas são assim. Conheço camaradas que são pessoas normais apesar de viverem pensando em números. Eu que seria o avesso de mim. Não é a realidade que eu estou descrevendo.

Ah, eu poderia estar num centro de pesquisa agora comendo frituras, engordando, meio cego e ganhando muito dinheiro com pouco tempo para gastá-lo. Ganharia um prêmio, tornar-me-ia famoso e o presidente da república condecorar-me-ia com a honra ao mérito. Um pouco mais de empenho levar-me-ia à Lua.

Eu desprezei os números em favor das letras, e sou inacreditavelmente feliz. Remorsos, nenhum. Eu só gostaria de ganhar mais dinheiro sem precisar reservar tempo demais ao trabalho. Dinheiro, todos o querem sempre mais.

Pensando melhor, deve haver um modo de ser feliz com pouco dinheiro. E se eu fosse tudo o que não sou como seria?

Eu seria mais fudido do que eu sou.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Estoicismo à Saramago


Tive o prazer de encontrar estas palavras. Gostaria de tê-las dito. Aqui as reproduzo integralmente do blog do José Saramago, cujo link está ali à direita. Eu, como o distinto português, de modo algum sei conviver com a indiferença. Apesar de usá-la, forçosamente, em nome da minha conveniência em alguns momentos.

Eis o texto de Saramago:

Vivo, vivíssimo

Intento ser, à minha maneira, um estóico prático, mas a indiferença como condição de felicidade nunca teve lugar na minha vida, e se é certo que procuro obstinadamente o sossego do espírito, certo é também que não me libertei nem pretendo libertar-me das paixões. Trato de habituar-me sem excessivo dramatismo à ideia de que o corpo não só é finível, como de certo modo é já, em cada momento, finito. Que importância tem isso, porém, se cada gesto, cada palavra, cada emoção são capazes de negar, também em cada momento, essa finitude? Em verdade, sinto-me vivo, vivíssimo, quando, por uma razão ou por outra, tenho de falar da morte…

domingo, 2 de novembro de 2008

Lewis Hamilton, campeão da F-1 2008


Até a morte de Ayrton Senna, os domingos de Fórmula 1 eram emocionantes para os fãs do automobilismo, mesmo para quem assistia, torcia pelo Senna sem entender coisa alguma, como eu. Senna era uma espécie de semideus brasileiro. Tinha carisma em demasia, além de ser o melhor piloto de seu tempo. Aí, veio o Rubens Barrichello, que todo mundo pensava ser o novo Senna ao entrar na Ferrari, mas o que se viu foi um piloto sem autonomia, que cedeu a dianteira numa corrida ganha para o Schumacher em 2002 (?). Passei a detestar a Ferrari por isso, e de quebra não acompanhei mais a F-1, que ficou bem chata com o alemão ganhando tudo. Aí, chegou o Alonso, o chato-mor. O espanhol ganhou dois anos seguidos o campeonato e aposentou Schumacher.

Em 2007, chega à F-1 o primeiro negro, Lewis Hamilton, com muito carisma e correndo de igual para igual com veteranos e campeões como seu então companheiro de equipe, Fernando Alonso. Com Hamilton a F-1 voltou a ter graça, a ser imprevisível e emocionante. Tornei-me fã de Hamilton. Voltei a acompanhar a F-1. O inglês quase ganhou o campeonato em sua primeira temporada. Haikkonen venceu com diferença de um ponto para Hamilton o campeonato de 2007.

Hamilton sagrou-se campeão da F-1 2008, hoje. Na última curva, a trezentos metros da linha de chegada, conseguiu ultrapassar Glock, chegar em 5º e marcar um pontinho que fez a grande diferença como no ano anterior. Ele e Massa fizeram de 2008 o campeonato mais vibrante, como não se via há anos. Não houvesse a Ferrari cometido tantos erros, não fosse a estabilidade técnica da McLaren, Massa seria o primeiro piloto brasileiro a ser campeão em casa. Foi quase, Felipe Massa.

Vibrei muito com a vitória de Hamilton. E alguém poderia perguntar por que não torço por Massa. Bem, eu não acho que ele seja um piloto ruim ou sem carisma, é que ele não tem aquela capacidade de Senna de enfrentar os adversários, a garra, a coragem, a humildade de admitir que errou (a equipe sempre erra com ele). Hamilton, por outro lado, mesmo sabendo que se quebrará todo vai pra cima, senta o pé mesmo e faz cada ultrapassagem (aquela do GP da Bélgica, então...!). Enfim, Hamilton é mais parecido com Senna do que Massa, eu , pobre torcedor, acho. O inglês soube comedir-se neste final de campeonato e isto lhe deu a vitória final.

Outra coisa legal na vitória de Hamilton foi que, com isso, ele calou os críticos, a turma do raio que cai no mesmo lugar duas vezes e, principalmente, o chato elevado à décima potência da televisão brasileira, o narrador Galvão Bueno.

Valeu, Hamilton! God save the black driver!

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Laerte voltou!

Dias atrás, lamentava aqui uma suposta retirada do ar das tirinhas diárias do Laerte, hospedadas no http://camaracom.com.br. Pois, então, inconformado decidi semana passada tentar novamente acessar o link. Não deu certo como da outra vez. Aí, eu tive a "brilhante idéia" de acessar o Oráculo Supremo*, vulgarmente conhecido por Google, que mostrou o caminho. Portanto, tenho o Laerte de novo, todos os dias!

O link é esse: http://camaracom.com.br/portal3/mundo-camara/quadrinhos/

O site, como podem notar, continua o mesmo. Acho que mudaram lá e esqueceram de avisar, ou pelo menos redirecionar o endereço anterior.

Carpe diem!


*Termo cunhado pelo companheiro Aristóteles. Blog do cara: http://aristotelesrocha.blogspot.com/
; no Orkut: http://www.orkut.com.br/Main#Profile.aspx?uid=14745578311732287491

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

1973: Secos & Molhados e Pink Floyd

Hoje, revirando meus arquivos digitais guardados em DVD’s e num HD externo encontrei os álbuns dos Secos & Molhados de 1973 e 1974. Ao notar o ano de 1973, lembrei que este também foi o ano de lançamento de outro grande álbum, só que em maior escala, “Dark Side Of The Moon”, do Pink Floyd. Ambos revolucionaram o cenário do Rock, no Brasil e na Inglaterra, respectivamente.


Como não possuo os pré-requisitos necessários para fazer uma análise consistente, já que não sou músico, nem tenho idade para avaliar o verdadeiro impacto desses álbuns nos seus lugares de origem, resigno-me a lançar minhas impressões de admirador sobre estes objetos e indicar a “ouvidura” deles. Vale a pena passear pela Net e buscar a tradução das letras do Pink Floyd.


O Secos & Molhados, de acordo com o que li pela Internet afora, pelo contexto histórico e visual surrealista e provocador dos integrantes da banda, em especial Ney Matogrosso, quebraram paradigmas sociais com música e poesia. Foram iconoclastas de uma grandeza perseguida até os nossos dias. No S&M de 1973 (o álbum não tem título), há preciosidades como “Rosa de Hiroshima”, poema de Vinícius de Moraes musicado por Gerson Conrad, “Sangue Latino”, “Primavera nos dentes”. Dá vontade de dançar cada vez que ouço esse álbum, e ao mesmo tempo de só escutar a poesia na voz do Ney.


Do outro lado do mundo, nascia o “Dark Side Of The Moon”, que é considerado por muitos como o álbum que inaugurou o rock progressivo (há quem dê os créditos ao “Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band”, dos Beatles). Até então, não se tinha ouvido um som tão “espacial” e psicodélico, repleto de inovações para a época. Canções como “Us and Them”, “Brain Damage”, “The Great Gig In The Sky” nos carregam para outro lugar, longe daqui. A última citada principalmente.


Enfim, são dois álbuns do caralho! Acredito que aqueles que os ouvirem não se arrependerão. Se se arrependerem, como diriam os ingleses: Sorry! Try again. Ou não. Façam como os caras de 1973: inovem, revolucionem (suas próprias vidas, preferencialmente).

domingo, 12 de outubro de 2008

Penumbra

Penumbra, segundo o dicionário Aurélio eletrônico, acepção 1: Sombra incompleta, produzida por um corpo que não intercepta de todo os raios luminosos. Ótima definição de um estado. Bela metáfora. Estive na penumbra por uns tempos. Hoje, não, tenho o conforto de Vênus, a quem devo meu resgate. A foto abaixo é uma das minhas "criações" preferidas. Gosto de imagens assim.

sábado, 11 de outubro de 2008

Doze anos sem Renato


Há doze anos o silêncio e a inércia mais temida tomara por completo Renato Manfredini Júnior, o nosso Renato Russo, líder da banda de rock mais cultuada do Brasil, Legião Urbana, e autor de canções de conteúdo universalista, na qual gerações se reconhecem até hoje. Nós, os legionários, estamos órfãos desde então.

Renato nos faz chorar, desperta nossa indignação à sociedade, às injustiças que presenciamos todos os dias, como já se disse tantas vezes, parece que Renato entrou em nossas cabeças e tirou de lá nossos mais íntimos sentimentos, dores e desejos. Ele soube ser crítico e poeta.

Não direi que todos os dias escuto Legião Urbana, decerto estou sempre ouvindo, fazendo leituras de mundo a partir da ideologia disseminada por Renato Russo.

Conheço Legião Urbana e Renato desde o tempo em que meu primo Isaac fora morar conosco lá nos idos de 1999, quando este me mostrara numa fita cassete os grandes sucessos da Legião: Será, Tempo perdido, Há tempos, Giz, Faroeste Caboclo e, aquela que mais me emocionou na época, Pais e filhos. Hoje, entre as minhas preferidas figuram músicas esquecidas ou quase desconhecidas como Eu era um lobisomem juvenil, Mil pedaços, Clarisse (que sempre me emociona), Esperando por mim etc.

Para mim, música é uma arte transcendental, uma vez que une poesia, letra e melodia. E Renato Russo, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá souberam fazer isso muito bem. Pena que um tripé não se sustenta em duas pernas e a viagem de Renato acarretou no fim de Legião Urbana. Claro que os demais integrantes têm seu valor, a questão não é esta, Renato é que era iluminado.

Renato continua irradiando sobre nós, pois sua voz ainda ecoa aos nossos ouvidos e mentes. Seja num radinho de pilha ou num Mp3-player, seja num cantarolar ou acompanhado de um violão, só ou acompanhado. Renato certa vez disse: “A verdadeira Legião Urbana são vocês!. Então...

Nós somos a Legião Urbana! Viva Renato Russo!

Urbana Legio omnia vincit

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

See you tomorrow, Laerte!



Há mais ou menos um ano que eu acompanho diariamente as tirinhas do Laerte publicadas na Folha de São Paulo através deste endereço: http://camaracom.com.br/portal3/quadrinhos/; só que agora, como diria Lennon, "o sonho acabou", ou melhor, quase. Dá pra acompanhar as tirinhas do mestre das HQ's brasileiras por aqui.

O problema é que as que eu acompanhava, como essas aí de cima, são muito filósoficas, às vezes de tal modo que sequer se pode intuir seu sentido, ou simplesmente não têm sentido. Estas que estão no Uol são chatas e muito óbvias.

Ainda bem que o André Dahmer, apesar de suas cada vez mais constantes ressacas nível 4, tem um site próprio e não pensa em desativá-lo tão cedo. Afinal, é de lá que ele obtem boa parte de seus rendimentos vendendo seus livros, rabiscos originais, cinzeiros para não-fumantes, camisetas etc.

Sentirei muita falta mesmo do Laerte nonsense.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Mundo triste (2)

Esta aí é a última tirinha dos Peanuts (Turma do Charlie Brown) feita pelo mestre Charles Schulz. Ontem eu postei uma do Calvin, que considero "a mais triste"; no entanto, esta também pode ser chamada do mesmo modo. É uma pena, mas a vida... sempre acaba. Sejamos felizes enquanto há tempo!

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Mundo triste



Esta foi considerada a tirinha mais triste já feita entre os blogueiros. Porém, por ser apócrifa, ou seja, não foi desenhada pelo criador do Calvin, Bill Watterson, muitos não lhe conferem o devido valor.

Eu sou partidário dos que a consideram a mais triste. Afinal, nunca é muito bonito o momento em que a criança em nós começa a ser esquecida.

Dias atrás revi com meus alunos do 3º ano do Ensino Médio o documentário "Falcão: meninos do tráfico". Desta vez, o depoimento de alguns garotos me chamou atenção não pela violência, e sim pela carência de afeto que todos compartilham. Ainda crianças, mas sem inocência, sem tempo para brincadeiras.

Eu, sinceramente, não gostaria de viver neste mundo. No entanto, não posso fingir que ele não existe.

Saudades do Paraíso


Há algum tempo, acho que já mais de ano, lendo Angústia, outra obra-prima do Graciliano Ramos, deparei-me com uma frase que resume todo o meu sentimento em relação à sociedade (daqui, alhures, de qualquer lugar). Ei-la:

“Minha pátria era a vila perdida no alto da serra, onde a chuva caía numa neblina que escondia tudo. Se eu tivesse ficado ali, ignoraria o resto do mundo.”

Sou meio niilista. Um saudosista completo. O meu paraíso na Terra é um lugar onde a maioria das pessoas não é alfabetizada, se curam com folhas e raízes, acreditam em lobisomem, alma penada, rezam perante uma imagem do Padre Cícero, Frei Damião e outros santos consagrados ou não, emprestam e nem lembram de buscar de volta, a não ser numa precisão, vão à missa, à procissão, recebem pessoas em suas casas e dão-lhes todas as mordomias, sempre oferecem o melhor sem mesquinhez, são pessoas verdadeiras, simples... acima de tudo, pessoas FELIZES.

Sinto saudades do Sertão, da terra que pariu meus avôs e minha mainha.

José Minervino Neto
Branquinha, 06/10/2008